As empresas, juntamente com instituições pedagógicas e académicas, enfrentam um importante desafio no que diz respeito ao futuro do emprego e em termos de gestão de talento. É o que Enrique Sánchez, presidente da Adecco, protagonista da entrevista a seguir, diz.
Partilho a visão de que o trabalho, na sua concepção tradicional, precisa mudar. Na verdade, isso já está a acontecer; muda, evolui e adapta-se ao contexto económico e social com o qual coexiste. O emprego é criado e destruído, mas acima de tudo é transformado. Ao contrário de outras épocas, a questão agora está na velocidade com que as mudanças ocorrem. Mas como vamos fazer a gestão da transformação do mundo do emprego, dependerá em muito do impacto que esta venha a ter.
A antecipação é e será decisiva, para entender bem, quais são as necessidades das empresas e dos trabalhadores, e assim, construir as ferramentas necessárias para que com as mudanças ninguém fique pelo caminho.
Esta é a razão pela qual insistimos e nos focamos na melhoria da educação, na formação para o emprego e na aprendizagem ao longo da vida. Se tudo isto for bem feito, sem dúvida, no futuro não haverá apenas mais emprego, mas haverá melhor emprego.
A irrupção da tecnologia está paradoxalmente a exigir uma série de competências, específicas na relação com as pessoas e cada vez mais importantes: trabalho em equipa, liderança, competências sociais e de comunicação, saber trabalhar remotamente, vocação para aprender, resiliência e polivalência, orientação para resultados qualitativos, capacidade de concentração, espírito crítico, criatividade, entre outras. Mas acima de todas destaco a paixão, pois é a condição humana mais difícil de automatizar.
A globalização, a curva demográfica, as novas formas de produção, a diversidade geracional, a tecnologia e as diferentes formas de colaboração estão a colocar em causa o padrão clássico da relação de trabalho. Economia colaborativa, plataformas digitais, freelancers, autonomia dependente, trabalho personalizado, terceirização, cadeias globais de produção, etc., estão a mudaras regras do jogo. Os princípios fundamentais do novo mercado de trabalho são orientados para modelos mais colaborativos, menos hierárquicos, mais transparentes, mais participativos, menos coletivos e mais individualizados, muito mais flexíveis e onde o conceito de empregabilidade está acima do de estabilidade.
Sobre o debate da automação e o seu impacto no mercado de trabalho, temos uma visão clara. Os envolvidos (empresas e países) que promoveram a inovação, o uso de tecnologia, robótica, automação, etc., são os mais competitivos. Isto porque conseguiram gerir melhor a sua produtividade, mas, além disso, conseguiram não só destruir emprego, mas continuar a criá-lo e fazê-lo em melhores condições. Na verdade, a automação de acordo com cada processo é o que deve servir para melhorar nossa proposta de valor para o cliente, melhorar as condições de trabalho dos colaboradores e trazer de volta ao centro de operações as pessoas, o nosso capital humano, para que, juntamente com a tecnologia, seja possível aproveitar e maximizar todo o talento profissional e pessoal.
A tecnologia hoje, e especialmente no futuro próximo, apresenta muitas versões e diferentes potencialidades. IA, Big Data, robótica, IoT, Redes Sociais, blockchain …Todas elas, por si só, têm efeitos disruptivos, mas se tivesse que destacar uma, eu diria que a médio-longo prazo e dependendo de como evolui, uma AI que se desenvolva adequadamente alguma capacidade cognitiva será algo realmente perturbador. Em todo caso, o que resultará realmente disruptivo será a convergência tecnológica, quando todas estas novas ferramentas forem capazes de trabalhar num mesmo objetivo. O que nos deve tranquilizar é saber que sempre, em qualquer caso, por trás de todas estas tecnologias, haverá sempre pessoas. Porque na verdade, não haverá tecnologias disruptivas sem pessoas disruptivas, e a chave para o futuro do emprego passa por uma boa gestão do melhor talento, “o talento humano”.