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Diállogos Gallaecia: ligação férrea entre o norte de Portugal e a Galiza

Na segunda edição do ciclo de debates Diállogos Gallaecia, renovou-se a vitalidade do tema da ferrovia que, sob bitola ibérica, irá fazer a ligação entre a Galiza e a região norte de Portugal. Numa conversa moderada pela economista Cristina Azevedo, o presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), Rui Moreira, e o presidente do Governo Regional da Galiza, Alberto Núñez Feijoó, trocaram impressões relevantes sobre esta parceria, cujo objetivo deverá ser cumprido no espaço de uma década.

Acolhidos por um público de excelência, no Rivoli, o painel desenrolou o colóquio sob o olhar atento de alguns dos empresários mais importantes do norte do país. Entre os presentes estiveram representadas empresas como o Grupo ACA; BPI; EEVM; Efacec; Fehst; Graphicsleader; Safina; Saint Gobain; Simoldes; entre outras. Também o presidente da APD Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, o presidente da Assembleia Municipal do Porto, Miguel Pereira Leite, e o vice-presidente da CMP, Filipe Araújo, marcaram presença no auditório.

Durante o encontro, que se estendeu por cerca de duas horas, o autarca português e o representante galego expuseram alguns dos pontos principais que integram o planeamento desta ligação. Segundo Rui Moreira, a mais recente reunião que teve com governantes nacionais possibilitou uma avaliação da forma como a linha férrea irá conjugar-se com a cidade, e confirmou a decisão de manter a bitola ibérica.

Haverá uma duplicação da linha do Norte, entre Lisboa e Porto, e a partir do Porto-Campanhã a ligação irá pelo aeroporto até à fronteira, ligando depois à rede espanhola.

Uma das grandes vantagens da confirmação da bitola ibérica é a possibilidade de realizar pequenos percursos, garantindo uma rede de serviços combinados e tirando partido, como afirmou o autarca portuense, da capilaridade da ferrovia espanhola. No caso de ter sido escolhida a bitola europeia, os percursos permitidos seriam apenas ponto a ponto, para grandes distâncias.

Diállogos Gallaecia: a concretização de um velho sonho

Alberto Núñez Feijóo relembrou que este projeto começou a ser pensado há cerca de uma década. A ligação entre a região norte de Portugal e a Galiza é, portanto, uma ambição já registada no passado. Além disso, Feijóo realçou como a proximidade dos territórios dá sentido ao fortalecimento da eurorregião, uma vez que, todos os dias, circulam cerca de 65 mil veículos entre as fronteiras.

A ligação [por ferrovia] a Portugal começámos a pensá-la em 2011. Já estava adjudicada a estação ferroviária de Vigo, como estação de passagem dos comboios de alta velocidade, mas veio a crise e parou o projeto.

Assumindo um franco otimismo, o presidente do Governo Regional da Galiza disse que todo o atraso que se gerou é, ainda, recuperável. Para isso, basta que o governo português encare esta ligação férrea como uma prioridade e saiba acelerar os processos com as devidas infraestruturas.

Ambos os líderes consideram que esta expansão ferroviária é uma enorme mais-valia para as respetivas nações; não só porque existe muita gente a circular entre estas zonas, mas também devido à importante atividade empresarial e económica que nelas se desenrola. Garantem que se trata de uma ligação estratégica, que representa um fortalecimento significativo da economia da eurorregião.

Para Rui Moreira, que descreve uma ligação da fachada Atlântica, entre Lisboa e Corunha, que garanta rapidez, segurança e eficiência, como a “concretização de um velho sonho”, o crescimento da ferrovia espanhola também traz benefícios. O facto de existir uma ligação de Madrid à Galiza aproxima toda a região norte de Portugal do território de nuestros hermanos.

Ao mesmo tempo, o representante da CMP afirmou não ter qualquer preocupação face ao mercado concorrencial, nomeadamente na mobilidade turística, que se pode gerar através do alargamento da linha férrea espanhola. Defendeu que devemos olhar para a península como se fosse uma cidade, sendo que a sua rede de ligação ferroviária, idealmente, seria o metro. Por isso, se Espanha for mais ágil nesse processo, Portugal consegue tirar partido; gera-se uma oportunidade e não um risco.

O autarca portuense referiu, ainda, a articulação entre portos, nomeadamente os de Leixões, Vigo e da Corunha, como um passo importante no estreitamento de laços com a região galega.

Diállogos Gallaecia

Entre nós, o que é mais importante não é pensarmos na concorrência, mas na convergência.

Para continuar a crescer nesta união, Rui Moreira e Núñez Feijóo acreditam que é fundamental harmonizar o processo de desburocratização, de maneira a uniformizar as regras para o licenciamento das atividades industriais. Por isso, a criação de uma Agência para o Desenvolvimento, cujo objetivo fosse captar investimento para a eurorregião da Galiza- Norte de Portugal, seria muito bem recebida pelos líderes.

Ainda assim, as duas regiões podem aproveitar o consenso que têm testemunhado perante o projeto da ligação férrea para cooperarem mais, noutras áreas. Rui Moreira realça o contexto académico, a formação e o intercâmbio profissional como boas oportunidades de cooperação, principalmente para fazer frente às enormes exigências impostas pela transição digital.

No seguimento dos principais temas abordados nesta segunda edição do ciclo de debates Diállogos Gallaecia, sobressaem as importantes atualizações do posicionamento político face ao projeto ferroviário em discussão. E é com base nessas atualizações que o futuro se vai continuar a construir, fortalecendo a relação entre as regiões e, sobretudo, criando um ecossistema empresarial próprio, cuja evolução irá, certamente, gerar grandes oportunidades de negócio.

A “pseudo descentralização” e o Plano de Recuperação e Resiliência

Numa troca de comentários sobre as suas regiões, os líderes apresentaram pontos de vista distintos. Núñez Feijóo celebrou o crescimento económico que se gerou no norte de Espanha, muito graças ao estatuto de região autónoma que a Galiza conseguiu há 40 anos. Por outro lado, o presidente da Câmara do Porto afirmou que Portugal acentuou o centralismo nas últimas décadas.

O autarca português foi mais longe e assegurou que a abordagem nacional aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) são parte do problema. Segundo Moreira, todos os países europeus apresentam uma forma de discussão territorial neste plano, sendo que Portugal usa os fundos como um financiamento à capital.

[O PRR] Mais uma vez, vai ser usado na capital e porquê? Como a capital não tem acesso a fundos, porque não é uma região de convergência, vão usar o PRR como se fosse um financiamento àquela região.

Quanto ao plano de descentralização que se encontra em curso, o líder apelidou-o de “pseudo descentralização”, mostrando-se igualmente cético perante o processo de regionalização. O autarca afirmou que, para que essas ações resultem realmente, é necessário reformar os modelos e as abordagens que têm vindo a ser implementadas. Defendendo que a soberania nacional exige, precisamente, que as populações, com todas as diferenças que têm, possam ditar o seu futuro — para construir um futuro comum —, Moreira cita o caso da autonomia galega, lembrando que a mesma é positiva para toda a Espanha, e não apenas para a Galiza.

O autarca disse, ainda, que em Portugal a regionalização foi sempre encarada como um perigo, com potencial  para destruir o país. Além disso, é vista como algo que sai mais caro ao Estado, quando, na opinião do presidente da CMP, uma região bem administrada, com bons princípios, custa menos dinheiro quando comparada com a existência de níveis intermédios na administração, que apresentam pouca competência. Para Rui Moreira, o argumento de que “fica mais caro ter menos políticos” é profundamente antidemocrático.

O aparelho mediático: o poder da comunicação

Núñez Feijóo afirmou que os grupos mediáticos, em Espanha, revelam um grande foco perante aquilo que acontece em Madrid. De forma crítica, o representante galego foi assertivo a relembrar que, embora seja a capital do país, Madrid não é a Espanha.

As regiões são tratadas de uma forma diferente pelos órgãos de comunicação espanhóis, mas os meios de comunicação galegos também são importantes, contando com um jornal que ocupa o pódio da tiragem nacional. Inclusivamente, a Galiza possui uma estação autonómica de televisão que tem um “importante impacto informativo” na configuração da atualidade galega.

Não obstante, o líder assinalou também que as estações de rádio e de televisão nacionais dirigem muita da sua atenção à capital espanhola. Segundo a sua visão, é indiscutível que a balança está desequilibrada nesse sentido, e garante que os média têm um défice de cobertura nacional e territorial que distorce a realidade das coisas.

O representante portuense, por outro lado, demonstrou o seu desagrado face às desigualdades que existem na distribuição do foco mediático, em Portugal. Atribui o início desse paradigma ao momento em que as agências de comunicação e de publicidade de Lisboa conseguiram ficar com as “contas de todas as empresas do norte”.

É hoje muito difícil, de facto, haver órgãos de comunicação social regionais, na medida em que toda a sua sustentabilidade, que é muito garantida através da publicidade, hoje, não tem como se articular.

Moreira mencionou Famalicão, Viana do Castelo e Guimarães como exemplos gritantes da desigual cobertura mediática, acrescentando que só há notícias sobre essas zonas quando ocorre “um desastre”. Por isso, enfatiza que é necessário que o tecido económico da região perceba que a ausência de comunicação social não é algo neutro. Sem margem para dúvidas, a implementação do modelo galego em território nacional, a esse nível, seria algo que o autarca apoiaria.

 

Assista ao evento:

Diálogos Gallaecia

Intervendrán:Presidente de la Cámara Municipal de Porto: Rui MoreiraPresidente Xunta de Galicia: Alberto Nuñez FeijooModera: Cristina Azevedo.

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