Opinión

O Mundo Automóvel já não é só deles… é NOSSO!

Concetualmente, há a ideia que uma empresa do setor automóvel é uma empresa de homens, mas isso não é verdade. Há quase uma década, abracei o desafio de fazer parte de uma empresa do setor, mas entrei para uma das empresas que mais aposta no talento, na igualdade de género e nos desafios. Essa empresa é a BMcar. De 11 mulheres, em 2012, passamos para 40, e as portas estão abertas não só para as mulheres, mas para todos aqueles que acrescentem qualidade e profissionalismo.

Felizmente, é cada vez mais a realidade do setor automóvel: a presença de mulheres em cargos além dos administrativos e financeiros, que hoje em dia ocupam posições de responsabilidade na área de vendas, qualidade e marketing. Ainda que cause alguma estranheza quando alguém entra nas nossas áreas de mecânica ou pós-venda e encontra uma mulher a fazer exatamente o mesmo trabalho de um outro colega (que por acaso é homem), é uma realidade que se tem vindo a dissipar.

O mundo evoluiu e as mulheres tornaram-se as grandes decisoras. Mostram-se cada vez mais informadas e deixaram de precisar da ajuda de terceiros na hora de avançar para a compra de um carro. A sociedade definiu que há carros de mulher e carros de homem, mas hoje isso já não é assim. Além do design, as mulheres procuram pela potência dos veículos, pelas tecnologias que oferecem, preocupam-se em saber os níveis de poluição ou consumo, entre muitas outras características.

O mundo evoluiu e as mulheres tornaram-se as grandes decisoras.

Todas estas mudanças estão também representadas no concurso Women’s World Car Of The Year, que dá a palavra às mulheres na hora de eleger os melhores carros sob rigorosos critérios. Mas a presença das mulheres na indústria automóvel não é de agora, afinal foram mulheres que estiveram envolvidas na invenção das linhas da faixa de rodagem, dos espelhos retrovisores e dos indicadores de mudança de direção.

Foram quatro mulheres que alteraram o paradigma da indústria automóvel. Sem elas, os automóveis como os conhecemos não seriam os mesmos.

 

Bertha Benz, a primeira mulher condutora

Bertha Benz, casada com Karl Benz, o engenheiro mecânico creditado como o inventor do automóvel, teve a ousadia de, em 1888, deixar uma nota na cozinha da sua casa a indicar que iria com os dois filhos para casa da avó das crianças, a 106 quilómetros de distância. Uma distância considerável na época.

Há quem diga que foi, inclusivamente, a primeira viagem de longa distância percorrida por um automóvel.

Durante o trajeto, Bertha Benz resolveu problemas relacionados com o sistema de refrigeração do automóvel. Foi necessário procurar, portanto, diversas fontes de água para que o triciclo não sobreaquecesse. O sistema de óleo também era um problema.

No entanto, o combustível tornou-se um desafio quando o sistema de combustão avariou. Bertha Benz teve de proceder a alguma bricolage na estrada, resolvendo um problema na tubagem. Além de primeira condutora, a esposa de Karl Benz partilhava os seus dotes para a engenharia, que teve de por em prática uma vez mais na viagem de regresso, desta vez no sistema de travagem.

 

Heidi Hetzer, a primeira mulher a dar a volta ao mundo com um clássico

A alemã Heidi Hetzer, que chegou a ser piloto de ralis, foi a primeira mulher a conduzir em várias estradas por todo o mundo num clássico, um Hudson Great Eight de 1930.

Em 2014, saiu de Berlim para atravessar os cinco continentes, num plano que traçava a passagem por 56 países diferentes. O feito histórico ainda se torna mais interessante quando descobrimos que Heidi Hetzer foi diagnosticada e operada a um cancro enquanto se encontrava no Peru. Nem mesmo a condição da sua saúde impediu que a condutora concluísse o percurso.

automóvel

Heidi Hetzer, a primeira mulher a dar a volta ao mundo num clássico. Foto de Karl Horn

 

Mary Anderson, a inventora dos limpa para-brisas

A história entre as mulheres continua com Mary Anderson, a inventora dos limpa para-brisas. Numa viagem de elétrico em Nova Iorque, em 1902, Anderson, uma empresária da construção civil, notou na quantidade de vezes que o motorista teve de parar o elétrico para limpar o para-brisas.

A empresária pensou em como poderia evitar esta situação, esboçando aquilo que veio a ser o primeiro limpa para-brisas da história. A conceção era relativamente básica – um braço metálico revestido por uma borracha resistente. A partir daí, Mary Anderson concebeu um dispositivo capaz de mover o limpa para-brisas a partir do interior da viatura. Tentou vender a sua criação a uma companhia do Canadá que não se mostrou muito interessada. Mais tarde, os limpa para-brisas desenvolveram-se e Henry Ford e a Cadillac adaptaram sistemas, em particular no Model T da Ford, um dos primeiros automóveis a dispor do engenho.

 

Florence Lawrence e a criação dos piscas intermitentes

A atriz canadiana Florence Lawrence, uma figura do cinema mudo apaixonada por automóveis, é referenciada como a criadora dos piscas intermitentes. Casada com um vendedor de automóveis, a atriz inventou um sistema, localizado na zona das cavas das rodas traseiras, que levantava ou baixava um indicador sempre que o condutor premia um botão.

Apesar de não ter patenteado este sistema, atribui-se a Florence Lawrence a origem dos primeiros piscas intermitentes de indicação de direção.

 

O futuro é feminino

E se a mulher teve a sua importância no passado, também a terá no futuro da indústria automóvel. O presidente do Grupo Abril, Walter Longo, referiu uma vez que “mulheres são mais digitais, enquanto os homens são mais analógicos. Isso significa que elas possuem os atributos que o setor precisa para não sucumbir nessa nova economia que está em franca revolução (…) O momento do mercado é mais de emoção, intuição, sensação e colaboração, e menos de razão, previsibilidade, competição e precisão (especialidades dos homens desde os tempos das cavernas)”. Assim sendo, e sobretudo num mundo que nos obrigou a processos de digitalização mais profundos, não será de admirar que essa influência venha a crescer cada vez mais.

Por fim, e não menos importante, olhando para as empresas atualmente e a sua composição, os mais recentes estudos mostram que, ao ritmo atual, serão precisos cerca de 100 anos para se alcançar uma efetiva igualdade de género. E se pensarmos nas quotas como a única solução para este problema, estamos a criar uma outra barreira: estaremos a sobrepor o género à competência e a escolher uma mulher… por ser mulher.

Seja atrás do volante, a decidir o seu primeiro ou próximo carro, a mexer em motores ou embraiagens, a liderar um departamento inteiro ou mesmo uma empresa: o mundo automóvel já não é só deles… É NOSSO!

Você pode estar interessado
Gracias por tu participación
Comparte el manifiesto y contribuye a impulsar la innovación entre empresas, organizaciones y directivos.
Agora você está vendo o conteúdo de APD zona centro.
Se desejar, pode aceder ao conteúdo adaptado à sua área geográfica