Opinión

Pós-pandemia: o que mudar?

Todos os planos que fizemos, todas as estratégias que idealizamos para os nossos negócios, de repente foram colocados em causa ou colocados em standby, por algo que não conseguimos ponderar no cenário mais pessimista que definimos.

As nossas empresas devem ter a coragem de reequacionar os investimentos previstos e adaptá-los aos novos desafios

De repente, vemo-nos confrontados com uma realidade que supera tudo o que tínhamos pensado. Tínhamos planos de contingência definidos, mas sempre pensamos que seriam deixados na gaveta. Raramente pensamos numa situação que afetasse tão globalmente o mundo e nos fizesse colocar em causa o que até agora tínhamos como certo.

Colocamos em causa a globalização, passamos a ser mais socialmente responsáveis, ponderamos a vida em sociedade e a digitalização de que tanto se falava deu um salto de gigante. Empresas mais ou menos tecnológicas veêm a necessidade de rever os seus processos e de os digitalizar.  Quebramos tabus da flexibilidade laboral e do teletrabalho, que em Portugal ainda era tão pouco comum. Todos os controlos físicos que tínhamos em tantos processos são ponderados e… a vida continua! Tudo isto em tão poucas semanas! Se dizíamos que o mundo andava rápido, parece que acelerou ainda mais em muitas áreas, embora as cidades aparentemente estejam paradas.

Empresas mais ou menos tecnológicas veêm a necessidade de rever os seus processos e de os digitalizar

Esta pandemia veio mostrar-nos que mesmo não estando preparados, temos de saber nos adaptar a uma realidade totalmente nova. Temos um nosso negócio para gerir, temos as vidas dos nossos colaboradores nas nossas mãos, temos a economia do nosso país dependente de nós e está na hora de mostrar o que valemos! Temos de conseguir lidar com o imprevisto e reinventar negócios para sobrevivermos.

Ao fim de várias semanas a reagir, já percebemos que agora é tempo de pensar no pós-pandemia. O que aprendemos nestas semanas, leva-nos a repensar o futuro.

A prioridade das empresas deverá ser posicionarem-se num novo mercado com as suas marcas e seus produtos. Tal só será possível se avaliarem outros eixos, que contribuirão para o seu sucesso:

  • Liderança: desenvolver verdadeiros líderes. Durante os tempos de crise, precisamos de líderes que não deixem de ter o foco no longo prazo, mas que percebam o presente. É necessário em tempos como os que estamos a viver que os nossos líderes transmitam calma e optimismo às organizações, garantindo o envolvimento das equipas nas decisões do dia a dia e também na construção da estratégia de longo prazo. Precisamos de líderes que definam claramente as prioridades e que facultem autonomia e empowerment às equipas, de modo a que estas encontrem novas soluções para os novos desafios. Precisamos de líderes que transmitam confiança nas medidas implementadas no presente, para alcançarmos o futuro.
  • Competências e talentos. Indústria 4.0, inteligência artificial, internet of things, analytics, … Tudo isto não são apenas buzz words. É a realidade que já faz parte das discussões do dia a dia e que nos levam a equacionar as equipas que temos. Identificar as competências necessárias dos colaboradores que permitirão as organizações posicionarem-se na linha da frente não é tema recente, pois há muito tempo que o mercado de trabalho está a mudar. A pandemia da Covid19 evidenciou a necessidade de rever competências. Aos vários níveis das organizações foram exigidos novos papéis e novas competências para lidar com o imprevisto e com a incerteza. Agora ainda mais são exigidas competências críticas, não só ao nível técnico, cognitivo e digital, mas também competências de inteligência emocional, de relacionamento social, de capacidade de adaptação e resiliência. Reconhecer estes talentos, treiná-los e motivá-los fará parte do potencial de sucesso das empresas.
  • Way of living Agile”: cultura de “fast adaptation” e “being flexible deve ser vivida por toda a organização e aos vários níveis: hierarquias, processos, tecnologia, pessoas. As empresas têm de ultrapassar a gestão por silos e as longas hierarquias e serem capazes de viver com as regras necessárias para garantirem o seu funcionamento, mas de forma que se consigam adaptar às novas exigências do mercado. De modo a viver com a incerteza, devem ter mecanismos que respondam a essa incerteza e disrupção e identifiquem oportunidades no novo contexto. Conseguir equacionar os modelos de negócio que até agora mostraram resultados, quebrar barreiras internas e fomentar o networking, ter coragem para desenhar novos modelos de distribuição, de produção e de compras, novas formas de financiamento, terão de fazer parte do modo de agir de todas as áreas da organização.
  • Supply Chain. A importância da cadeia de abastecimento foi agora evidenciada, devendo ser vista como o suporte para a implementação de estratégias de vendas e de marketing. A abrangência mundial desta crise veio questionar a globalização das cadeias, embora muito antes da pandemia, muitas empresas já tivessem começado a aproximar os abastecimentos e produções aos locais de consumo. Think global, act local será cada vez mais uma tendência, com as empresas a perceberem a vantagem de estarem perto do consumidor e a contribuírem para a economia local. Simultaneamente, os canais de distribuição estão a mudar, toda a logística a ser adaptada e as linhas de produção a reagirem a planos de muito curto prazo. A cadeia de abastecimento tem de se adaptar aos requisitos do mercado de curto prazo e, simultaneamente, às ideias e produtos inovadores que vão surgir. Ela própria tem de se reinventar e de ser inovadora. Tudo isto faz com que a visão integrada da cadeia, a partilha de informação e a colaboração entre parceiros sejam fatores a serem ainda mais considerados nas prioridades das organizações.

De repente, vemo-nos confrontados com uma realidade que supera tudo o que tínhamos pensado

As nossas empresas devem ter a coragem de reequacionar os investimentos previstos e adaptá-los aos novos desafios. Há investimentos que não podem ser descurados e que são pilares base para o futuro. As empresas estão perante um novo normal e têm uma oportunidade de se transformar, devendo olhar não só para o mercado, mas também para si próprias. Agarrar as oportunidades que surgem em momentos de crise já provou a muitas empresas que é uma ponte para o sucesso!

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