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Quando a reciclagem e a gestão de resíduos se tornam uma vantagem competitiva

As organizações devem mudar a sua mentalidade quando se trata de reciclagem e gestão de resíduos. Chapas, cartão, plásticos, materiais, equipamentos eletrónicos, metais, embalagens… uma infinidade de matérias circula diariamente pelas empresas e termina a sua vida útil aparente sem dor ou glória. No máximo, chegam a um balde ou recipiente de uma determinada cor para reciclá-lo. Mas a realidade é que há uma carência estratégica, além das imposições legais.

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística espanhol sobre as contas ambientais são muito eloquentes: 48,3% dos resíduos gerados em Espanha acabam no aterro sanitário, contra 38,7% reciclados. Embora o estudo compile informações de 2018, mostra que ainda há um longo caminho a percorrer para a chamada economia circular.

Gestão de resíduos como investimento

O impulso mais recente para mudar essa imagem foi a entrada em vigor, a 7 de abril, da Lei de Resíduos e Solos Contaminados. Um regulamento que proíbe a venda de plásticos de uso único, como palhinhas e copos, que estabelece que os municípios com mais de 5.000 habitantes tenham, a partir de julho, sistemas de coleta seletiva de resíduos orgânicos, além de metais, papel, vidro e plástico. Helena González, CEO da Regusa Recycling & Recovery, entende que o impacto da nova legislação será positivo, embora inferior ao esperado se não tiver um impacto económico individual óbvio.

As sanções incluídas no novo texto duplicaram o valor das multas. As muito graves chegam a 3,5 milhões de euros, as graves até 100 mil euros e as menores até aos 2.000 euros. O abandono e despejo de lixo na natureza aparece inclusive pela primeira vez como infração, tipificada como infração grave. “Se todos queremos um mundo para respirar, temos que ir além do que é economicamente lucrativo. É hora de considerar a gestão de resíduos como um investimento, e não como um custo. É muito mais caro gerenciá-los apenas na fase final”, diz González.

Em cada casa há uma responsabilidade moral de reciclar, de separar os resíduos para contribuir para um planeta mais sustentável. Mas as empresas também têm um papel fundamental. Não podem ignorar que, anualmente, segundo dados do INE, geram cerca de 137,8 milhões de toneladas de resíduos. O que fazemos com esse volume de resíduos? Como consciencializar as empresas sobre a relevância do tratamento adequado?

Se ajudar a longevidade do planeta não basta como argumento, González apela aos gestores sobre a responsabilidade de estabelecer uma estratégia que forneça mais recursos. “Vamos continuar presos no mesmo discurso de pouco investimento até que aconteça algo legal que reclame o valor das multas por não fazer bem”, sustenta.

Poupança sustentável… e económica

Para organizações que lidam com sucata e metais, o valor agregado é tangível. Ganham dinheiro com a venda desses materiais, uma vez que não são mais úteis para a sua atividade. González coloca em cima da mesa que o mesmo acontece com recursos como o papel, o cartão e o plástico. Uma política que, aliás, é aplicada em países europeus como a Bélgica (o consumidor recebe cinco cêntimos por cada peça de vidro reciclado). Já existem vantagens, tanto económicas quanto em termos de sustentabilidade, ao reciclar e devolver esses resíduos ao sistema, mas pode ser altura de agregar maior rentabilidade às contas, ainda que o benefício do seu simples tratamento tenha valor por si só.

Além das empresas cuja atividade privilegia a reciclagem, a nova legislação abre o leque a mais setores. A lei, por exemplo, proíbe a destruição de “produtos não perecíveis excedentes não vendidos, como têxteis, brinquedos ou eletrodomésticos”. Ao que acrescenta o seguinte: “estes excedentes serão destinados primeiro aos canais de reutilização, incluindo a doação, e quando isso não for possível, à preparação para a reutilização”. Embora seja por imperativo legal, muitas empresas não poderão ficar de braços cruzados ao lidar com a sua gestão de resíduos.

Alguma ajuda europeia que não chegará

Para mitigar os efeitos da crise económica causada pelo coronavírus, a UE aprovou um pacote de ajuda sem precedentes. A Espanha vai receber 140.000 milhões de euros, naquilo que são batizados como fundos de recuperação ou Next Generation EU, até 2026. Qualquer PME, negócio autónomo ou grande empresa pode solicitá-los. Claro, desde que contribuam para digitalizar, reconverter e tornar o seu negócio mais sustentável. No entanto, isso não significa que os resíduos sejam uma razão suficiente para aceder aos subsídios. A ideia de sustentabilidade não tem em conta como melhorar a gestão de resíduos. “Não há itens ou dinheiro por meio desses fundos”, lamenta González.

Se uma empresa pretende dar um salto ecológico de qualidade, dependerá dos seus recursos e vontade, sem ajuda pública. Os fundos apelam para a economia circular e determinam dinheiro para determinados produtos da cadeia produtiva, mas apenas para aqueles especificamente dedicados ao tratamento. “Se vai criar uma usina de biocombustíveis dentro da sua empresa, pode solicitar os fundos. Para favorecer um menor consumo de papel ou cartão ou reciclá-lo de forma otimizada, não há”, conclui.

Ainda assim, essa mudança de mentalidade não requer grandes quantidades de investimento. Tomemos o exemplo de uma empresa de logística padrão, que lida principalmente com madeira e lixo; cerca de 15 toneladas mensais. O custo médio do seu tratamento não excederá os 1200 euros por mês, um valor quase impercetível nas suas contas anuais em comparação com os milhões de euros faturados ano após ano.

A UE impôs, há mais de uma década, que os Estados reciclem 50% dos seus resíduos urbanos até 2020. Mas em 2020, a Espanha mal atingiu 36%, segundo dados do Eurostat. Longe de relaxar, Bruxelas estabeleceu metas mais rígidas e, em 2030, deve chegar a 60%; 65% em 2035. “Uma economia circular sem tratamento de resíduos não é nada. É essencial que este processo seja encerrado. Estamos a falar em transformar um material e devolvê-lo ao círculo económico. Os gestores de resíduos recebem os materiais, separam-nos e finalizam o processo. As demais empresas só precisam de facilitar essa tarefa”, conclui González.

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