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Transição energética: desafios para os Mercados e Serviços energéticos

Num momento particularmente desafiante para o setor da Energia, em Portugal e na Europa, é importante conhecer e debater o que a Endesa e os principais players europeus estão a promover para acompanhar a transição energética. Além da volatilidade que carateriza o mercado, o grande desafio atual é conhecer as suas particularidades e procurar aproveitar os momentos de compra que sejam mais favoráveis.

Atingir a neutralidade carbónica até 2050 é uma das grandes metas europeias; naturalmente, é também uma meta portuguesa. No seguimento dessas ambições, o Governo aprovou, em 2019, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050). Este documento estabelece vários objetivos para a descarbonização, incidindo em dois planos de atuação muito relevantes, no setor eletroprodutor e no setor da mobilidade.

No primeiro vetor, destaca-se a progressiva descontinuação da utilização de combustíveis fósseis na produção de eletricidade. Assume-se o compromisso da desativação das centrais termoelétricas a carvão, até ao ano de 2030, e o abandono da produção a partir de gás natural, até ao ano de 2040. Como objetivo final, prevê-se que a totalidade da capacidade instalada de produção de energia elétrica, em Portugal, venha a ser, no futuro (médio/longo prazo), proveniente exclusivamente de energias renováveis.

Nesse sentido, são traçadas metas específicas: prevê-se, no roteiro, um aumento da produção de solar fotovoltaico, até que se atinjam os 13 GW de capacidade instalada em 2050; um aumento da produção de energia hídrica, atingindo, conjuntamente com baterias, 7,5 GW de capacidade instalada, também em 2050; e um reforço e aumento da aposta na energia eólica.

No setor da mobilidade, o objetivo principal passa por tornar a frota nacional de ligeiros de passageiros 100% elétrica, até 2050, bem como a introdução de novos combustíveis como o hidrogénio nos veículos pesados. O processo em curso é, portanto, muito desafiante.

Em alinhamento com os objetivos do roteiro, o PNEC 2030 – Plano Nacional de Energia e Clima, aprovado em 2020, reforça a importância do cumprimento de algumas metas até ao final da década vigente. Trata-se, especificamente, da redução entre 45-55% das emissões com gases de efeito de estufa (por comparação com os valores de emissão registados em 2005); da incorporação de 47% de energia de fontes renováveis no consumo final bruto de energia; e da redução, em 35%, do consumo de energia primária, com vista a uma melhor eficiência energética.

Transição energética: o desafio e a responsabilidade do setor 

Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, admite que as mudanças no setor energético podem ser lentas, mas garante que estão em curso. Acrescenta que as ambiguidades fazem parte da vida democrática, o que subentende uma enorme necessidade de implementar todas as medidas de forma progressiva.

As metas, as referências e as balizas não são as questões mais marcantes. Segundo o especialista, esta transição é muito mais do que uma reação emotiva ao problema das alterações climáticas – e da necessidade de mitigá-las. O que o cenário atual exige é uma autêntica mudança de vida.

Trata-se de infletir todo o modelo energético que tem sido o comum da dinâmica económica, cultural, social e tecnológica do último século.

O mercado energético não é transformado apenas pela tecnologia e pelas medidas políticas. É influenciado e influencia a sociedade a nível cultural, socioeconómico e técnico-financeiro. Ultrapassa a questão ambiental e o desafio de diminuição das emissões de CO2; porém, nitidamente está em fase de transição porque, hoje em dia, toda a comunidade é mais consciente sobre a forma como, coletivamente, tratamos o planeta e de como ele tem vindo a adoecer devido à ação humana.

Ribeiro da Silva está bem a par da urgente necessidade de mudar o paradigma do setor. A forma como nos apoderamos dos espaços, como lidamos e descuramos a importância da biodiversidade e a “lixeira” que fizemos dos oceanos e da atmosfera são fatores de enorme relevo no conjunto de agressões que, de forma consistente, temos vindo a infligir no meio envolvente. E onde entra a energia neste panorama? De facto, e como observa o presidente da Endesa Portugal, este é um dos setores com mais responsabilidades em termos de emissões de gases de efeito de estufa.

Para ilustrar esta realidade, basta pensar nos exemplos das cadeias de carvão e de petróleo. Há um local de extração, que envolve riscos e onde se geram sempre algumas emissões; depois, existe toda a logística de transporte das matérias-primas e, ainda, a transformação das mesmas nos diferentes derivados – o que implica mais emissões de gases e outros tipos de danos ambientes. De seguida, é necessário transportá-los para os pontos de abastecimento, onde também há aspetos sensíveis de natureza ambiental e a nível do impacto na qualidade de vida das pessoas.

Em suma, o líder considera que todas as empresas energéticas têm que mudar e que se adaptar. É uma questão de sobrevivência.

Temos que puxar de todos os argumentos possíveis para uma atuação transformacional, que contribua, pelo lado da oferta, para mantermos algo essencial – ou seja, disponibilizarmos de forma segura, fiável e da maneira mais sustentável possível, a eletricidade que é necessária para as nossas vidas.

Ribeiro da Silva reforça que, simultaneamente, o tecido empresarial do setor deve colocar-se cada vez mais do lado das preocupações das restantes empresas e dos cidadãos. Só assim conseguirão fazer com que as transformações em curso sejam compreendidas e que a comunidade seja parte ativa desse processo.

A inevitável questão do Hidrogénio

Embora reconheça que o hidrogénio (H2) verde tem conquistado terreno por múltiplos outros países, o líder da Endesa Portugal alerta que não se trata de uma solução para todos os problemas. O que se tem verificado é que o H2 é uma ferramenta importante na substituição de combustíveis fósseis, particularmente em processos industriais que necessitam deste agente no seu ciclo, bem como na mobilidade.

No combate que atualmente se trava com as alterações climáticas, todas as ferramentas são bem-vindas. Segundo a opinião de Ribeiro da Silva, o H2 verde faz sentido e tem lugar no quadro de soluções; a estratégia pode levar algum tempo a ser totalmente implementada, mas é já um caminho minuciosamente traçado.

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O contributo da Endesa X

Para fazer frente aos desafios atuais, a Endesa lançou uma nova estratégia comercial em Portugal, sob a marca Endesa X. Neste novo conceito, voltado para a área dos serviços energéticos, o foco principal passa por dar resposta às exigências da transição em curso.

Vasco Gomes, diretor de Serviços Energéticos da Endesa Portugal, clarificou que a marca veio suportar a visão estratégica relativamente à prestação de serviços aos clientes. Existe uma ambição forte de simplificar tudo aos consumidores, facilitando o acesso a novas tecnologias e produtos. Assim, vão conseguir descarbonizar-se a elas mesmas e ter um impacto positivo em toda a cadeia, enquanto se envolvem no processo de transição energética.

Dentro dessa perspetiva, a Endesa X organiza-se numa ideia concetual de quatro ecossistemas diferentes:

  • e-home, para clientes domésticos, que oferece uma série de produtos destinados à utilização no domicílio;
  • e-indutries, para empresas, cujo principal objetivo é facilitar o uso de novas tecnologias, processos de eficiência e a melhoria contínua dos equipamentos e processos industriais;
  • e-city, para o setor público;
  • e-mobility, especificamente para a mobilidade.

O mercado marginalista e os preços de mercado

Vera Marques, Key Account Manager da Endesa Portugal, especializada em Mercados Energéticos, clarificou os conceitos de preços de mercado e mercado marginalista no setor da Energia. Em suma, o preço da eletricidade, que é formado para cada hora do dia, acaba por ser o resultado do cruzamento entre a curva do lado da procura e a curva do lado da oferta. Isto porque, em termos de sistema, tem que haver um processamento suficiente de energia elétrica para cobrir a procura do mercado para essa determinada hora.

O operador de sistema vai avaliando todas as ofertas do lado da produção, do menor valor para o maior, até que se chegue à quantidade de energia suficiente do consumo específico desse horário.

A última tecnologia a entrar para a produção será aquela que vai marcar o preço em si. Normalmente, a primeira é sempre a que tem o custo marginal mais baixo, de seguida as renováveis e, depois, os cursos de água.

Quando esses tipos de energias não são suficientes, tem que entrar um back up. Por norma, entra o carvão; mas, desde há cerca de dois anos, tem sido o gás natural, que consegue chegar ao sistema com um preço inferior. Em suma, o preço que fica determinado para essa hora específica acaba por ser o do gás, que é a última tecnologia a entrar.

Desafios e oportunidades do autoconsumo

Um dos temas mais badalados dentro do futuro do setor, especificamente na agenda da transição energética, prende-se com o autoconsumo. Sobre o percurso português nesse campo, especificamente no que toca à evolução dos aspetos regulamentares, Vasco Gomes considera que há motivos de orgulho.

A nova diretiva europeia sobre o tema da transição energética impôs que se abrisse a porta a novas modalidades de autoconsumo. Entram, agora, em jogo, dois novos conceitos: o autoconsumo coletivo e as comunidades de energia renovável, como explicou o especialista da Endesa X.

O autoconsumo coletivo abre a porta a todos aqueles que queiram participar neste processo de transição e usufruir da tecnologia, mas que, fisicamente – seja na sua indústria ou em sua casa –, não reúnem condições para instalar uma central. Esta modalidade permite que se associem com outras entidades na sua vizinhança, nos sítios onde é possível fazer essa instalação, repartindo a produção e as poupanças inerentes da produção solar entre todos, com determinadas regras.

A produção solar fotovoltaica de pequena escala em casa dos clientes já tem tido um percurso em Portugal, e é aplaudido.

Por outro lado, as comunidades de energia renovável levam esse conceito para o lado da afinidade, deixando a questão da vizinhança de lado. Ou seja, todas as empresas de um determinado setor, independentemente da sua localização geográfica, têm a oportunidade de se constituir como uma comunidade de energia renovável, fazendo investimentos nessas energias que depois serão do usufruto de toda a comunidade.

Vasco Gomes faz questão de clarificar que os números que estão a servir de meta para 2030, no autoconsumo, são ambiciosos. Por isso, reforça que todos os agentes envolvidos terão que unir esforços para concretizá-los.

Transição energética: os efeitos da pandemia

Naturalmente, a pandemia e o confinamento trouxeram uma queda drástica no consumo elétrico a nível mundial (em Portugal caiu 12%, em Espanha, 17%), especialmente entre março e maio de 2020. Portanto, houve um impacto direto na baixa dos preços de mercado, justamente nos meses em que, habitualmente, o contributo das energias renováveis, por si só, já é bastante favorável.

Em suma, o consumo foi substancialmente mais baixo e houve muita produção de renováveis.

Depois do primeiro confinamento, os preços foram normalizando, como explica Vera Marques. No entanto, a especialista relembra que a incerteza ainda se mantém, seja a nível industrial, seja a nível do consumo em si.

Isso não invalida que o foco esteja, como está, em aumentar significativamente a potência renovável, no contexto ibérico e no europeu. Quanto mais produção renovável houver, à partida, mais baixos serão os preços médios de mercado spot.

Em relação ao cumprimento das metas da transição energética, Nuno Ribeiro da Silva está certo de que será um ano difícil. A pandemia veio trazer constrangimentos acrescidos, em termos de licenciamento, por exemplo, uma vez que os processos administrativos estão com menos dinâmica.

Simultaneamente, algumas empresas ficaram mais debilitadas economicamente, o que afeta o investimento tecnológico e em inovação. Por outro lado, o presidente da Endesa Portugal assinala a lição de humildade que estes tempos de turbulência trouxeram.

Esta crise também acentuou o foco dos governos e dos cidadãos para a necessidade de todo este quadro de ajuste.

A consciência energética das empresas e de toda a comunidade está mais alerta. O cenário pandémico trouxe uma oportunidade de reflexão que, de certa forma, potenciou a sensibilidade coletiva para as urgências da ciência e da natureza.

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