Digitalização e sustentabilidade são os dois pilares sobre os quais se sustentará o desenvolvimento futuro das sociedades e da economia. A transição energética depende de ferramentas tecnológicas para atingir os seus objetivos de forma mais rápida e económica e a digitalização não terá sucesso se não posicionar a sustentabilidade como elemento fundamental do seu desenvolvimento. Uma das ferramentas que pode ajudar a acelerar a transição energética, tão necessária e que todos os países devem enfrentar de uma forma mais equitativa e que, dentro da indústria, gere confiança na tecnologia, é a Inteligência Artificial (IA).
Há consenso entre os gestores das principais empresas do mundo sobre o impacto crucial que a IA tem no setor de energia, em todas as suas áreas; existem vários estudos disponíveis que refletem isso mesmo. Não se trata de mudanças que virão num futuro distante, mas de fatores que já estão a mudar o panorama competitivo de cada vez mais setores e empresas.
As formas pelas quais a IA ajudará as empresas são múltiplas e ainda não foram totalmente exploradas. No entanto, podemos olhar para os setores industriais e rever os principais desenvolvimentos que estão a acontecer com a ajuda desta tecnologia.
No contexto da Energia, já existem tendências muito claras. Por se tratar de uma indústria tradicional e madura, onde as infraestruturas do negócio – seja na produção, transporte ou distribuição – apresentam um elevado grau de criticidade, devido ao seu enorme impacto na sociedade e na economia, muito se espera da IA como um fator transformador do setor energético.
Nos últimos anos, surgiu um novo conceito: o de redes inteligentes (smart grids), impulsionado principalmente por recursos de Inteligência Artificial. Essas redes automatizadas são capazes de análises inteligentes em tempo real, equilibrando o abastecimento e a procura de energia e detetando possíveis erros ou fraudes em toda a cadeia de abastecimento.
Além disso, graças à tecnologia IA incorporada nas smart grids, os fornecedores de energia podem gerir com mais eficiência as falhas do serviço, otimizar a tensão e detetar picos de consumo, bem como parametrizar o comportamento específico de alguns clientes ou cidades. Também é importante destacar que, através destas redes, será possível avançar na produção e distribuição para aproximá-la do consumidor final. Considerando diferentes alternativas de produção, os consumidores poderão beneficiar da utilização dos modelos mais eficientes em cada caso.
A incorporação da Inteligência Artificial no setor energético também permite aos fornecedores antecipar a procura de energia elétrica nas zonas urbanas ou industriais, de forma a que a produção possa ser ajustada a cada necessidade particular.
Outra das grandes revoluções que a IA promete nesta área é a manutenção preditiva das redes de distribuição de energia elétrica. Cada ponto de toda a rede de abastecimento é monitorizado em tempo real e pode alertar quando os componentes estão prestes a falhar. Desta forma, um possível incidente pode ser resolvido antes que ocorra alguma falha mais grave.
A IA é uma grande aliada na eficiência energética das empresas. Se for possível antecipar a procura, monitorizar as infraestruturas e equilibrar a carga energética, também se pode reduzir o consumo de eletricidade graças à aplicação desta tecnologia. Por exemplo, o Google usa algoritmos de machine learning para reduzir o consumo de eletricidade, entre 15% a 40%, nos seus data centers. Essas previsões permitem que se perceba o consumo nos sistemas de refrigeração das centrais e que o controlo dos equipamentos seja mais eficiente.
As energias renováveis são a grande aposta dos governos da maioria dos países, tanto pela escassez de recursos como pelos possíveis impactos climáticos de outras energias mais severas sobre o meio ambiente. Ainda assim, embora sejam recursos tidos como infinitos (o vento, o sol e a água), são, antes de tudo, intermitentes. É difícil prever o consumo quando os recursos dependem de certas condições climatéricas para darem frutos.
A IA é essencial para ajudar a prever as condições meteorológicas, de modo a que se possa antecipar quanta energia estará disponível num determinado momento.
Dada a inegável importância dos casos de uso supracitados, bem como dos resultados que estão a ser obtidos, e dadas as particularidades do setor elétrico, parece claro que as contribuições da IA em termos de conhecimento e previsão irão marcar o futuro do setor.
Apesar da sua promessa, o uso de IA no setor de energia ainda é limitado e é maioritariamente implementado em projetos-piloto, para manutenção preditiva de ativos. Embora esses feitos sejam úteis, há uma oportunidade muito maior para a IA ajudar a acelerar a transição energética global do que se acredita atualmente. Os esforços recentes para implementar esta tecnologia no setor têm-se mostrado promissores, mas isso só será realizado se houver maior inovação, adoção e colaboração da IA em toda a indústria.
Ainda sobre esta questão, o relatório levado a cabo pelo World Economic Forum sobre a importância da IA identifica um conjunto de nove princípios orientadores para criar um entendimento comum do que é necessário para desbloquear o seu potencial e saber como adotá-la com segurança e responsabilidade, de forma a acelerar a transição. Os princípios são divididos em três áreas:
O relatório também aponta que as empresas e os responsáveis políticos devem desempenhar um papel ativo na gestão e modelagem do uso de Inteligência Artificial no setor energético, estabelecendo melhores práticas para projetar sistemas de forma responsável, criando um ambiente propício que ative e explore todas as suas potencialidades.