Opinión

Contratação: entre a segurança e a flexibilidade no trabalho

Muito se fala sobre a flexibilidade no trabalho. Se este já era um tema antes da pandemia, hoje assume especial relevância por parte dos profissionais e muito condiciona a forma como as organizações se posicionam no mercado. Estamos a viver um período de pleno emprego, em que, segundo o estudo Talent Shortage 2022, publicado pelo ManpowerGroup, 85% dos empregadores portugueses têm dificuldade em preencher as vagas que lançam para o mercado. Neste contexto, os profissionais assumem um lugar de controlo na forma como querem trabalhar, obrigando as empresas a terem de se adaptar e a alterar, em muitos casos, a forma como gerem os seus recursos por forma a atraírem e reterem o melhor talento.

Se, não há muito tempo, o tipo de vínculo contratual era importante para os profissionais quando ingressavam numa empresa, hoje a flexibilização e o bem-estar no trabalho assumem maior destaque. Assim, as empresas que se queiram posicionar no mercado e atrair e reter talento, precisam de ter em conta que a flexibilização deve ir ao encontro das expectativas dos colaboradores. E as preferências dos colaboradores estão a mudar.

De acordo com um estudo realizado a nível global pelo ManpowerGroup sobre as atuais preferências dos trabalhadores, as empresas enfrentam alguns desafios que deve ter em conta na gestão do seu talento. Destacam-se alguns temas aos quais deve ser sensível:

  • Ampliação das fronteiras da flexibilidade no trabalho, dando especial importância à escolha individual do trabalhador. Atualmente, os profissionais valorizam poder escolher os seus horários de trabalho, os dias da semana que querem trabalhar, a carga horária, o local de trabalho, etc., conciliando todos esses fatores com a sua vida pessoal.
  • Reescrever as regras da liderança – os profissionais estão a pedir um trabalho com um propósito e significado, contestando as normas de trabalho convencionais e, neste aspeto, os líderes têm um papel fundamental a desempenhar nas organizações. Aquilo que é valorizado num líder hoje é alguém que apoie o bem-estar físico e emocional da sua equipa e de cada elemento em particular que a compõe, dando autonomia, flexibilidade e criando relações de confiança e oportunidades de crescimento. De acordo com o estudo referido, os profissionais valorizam:
    • ter um líder empático, solidário e em quem confiam;
    • trabalhar com uma equipa que gostam e em quem também podem confiar;
    • ter motivação com o trabalho que realizam;
    • ter um propósito no seu trabalho;
    • saber que o seu trabalho contribui positivamente para a sociedade.

flexibilidade no trabalho

Com esta alteração de paradigma ao nível da liderança, há a destacar o papel dos managers nas organizações uma vez que são eles que fazem a ponte entre a organização e os colaboradores. Assim, as organizações devem apostar na formação dos seus líderes e garantir que estes têm as competências necessárias para a o papel que desempenham, tendo a consciência que se para alguns a capacidade de liderança é inata, para outros requer desenvolvimento.

  • Construção de um futuro favorável à família onde, mais uma vez, a flexibilidade é a palavra de ordem. Em virtude da pandemia, os trabalhadores ficaram mais sensibilizados para a importância do equilíbrio e do bem-estar no trabalho, passando a valorizar ainda mais o apoio das empresas no que se refere à sua saúde física e mental. Assim, estar atento e apoiar a prestação de cuidados infantis e a familiares dos trabalhadores, apoio na sua saúde física através da promoção de hábitos saudáveis (como sendo o acesso à prática de exercício e opções de alimentação saudável no trabalho) e mental (prevenindo o burnout), são hoje práticas que as organizações devem incorporar e sobre as quais devem ser muito explícitas.

A cultura organizacional também ganhou particular destaque, sobretudo em gerações mais novas. Os valores empresariais e a existência de uma proposta de valor com um propósito bem definido são, hoje, critérios de seleção para quem aceita ou muda de emprego, pelo que o foco na renovação da cultura empresarial para construir confiança, reter equipas e energizar a experiência dos trabalhadores deve ser uma prioridade para as organizações.

Há ainda outros temas, que tocam na flexibilidade no trabalho, e que não se prendem somente com horários e local do exercício das funções, mas que também estão a pedir às organizações que alterem a sua forma de atuação. Mais do que o quê? e onde?, as novas gerações mobilizam-se por projetos, desafios e perspetivas de desenvolvimento e evolução na carreira. Procuram salários ajustados à responsabilidade assumida e aos resultados entregues. Procuram inovação e progressão. Esta é mais uma mudança de paradigma para a qual as empresas devem estar sensibilizadas e que têm impacto direto na retenção do talento. Ir ao encontro das expectativas dos colaboradores e desenhar desafios que conjuguem necessidades organizacionais com ambições individuais.

A conjugação destes fatores irá condicionar o futuro do trabalho e, com muita probabilidade, a forma de avaliação dos colaboradores, o que pede às organizações que deixem de se focar no processo para se passarem a focar naquilo que o trabalhador entrega do ponto de vista de produtividade e de resultado. Para isso, o desempenho terá de ser medido por resultados, o que exigirá a definição de objetivos claros para os colaboradores e não para as funções. Mais importante que o modo como se faz passará a ser o modo como se chega ao objetivo.

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