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Perspetivas APD para 2022: competitividade, produtividade e geoestratégia

A APD Portugal realizou mais uma edição do evento anual “Perspetivas APD”, em parceria com a AIP – Associação Industrial Portuguesa. O encontro decorreu nas instalações desta última, durante a manhã do dia 05 de abril, e dividiu-se em dois painéis temáticos: Produtividade VS Competitividade e A Geoestratégia de negócios.

Rui Constantino, economista chefe do Banco Santander e moderador do primeiro painel, começou por contextualizar a audiência sobre o estado económico do país, que, em consequência da crise pandémica, teve uma recuperação ligeiramente mais baixa em 2021 do que em 2020. Este facto coloca Portugal numa frágil 21.ª posição do ranking da União Europeia (UE) e demonstra que “não estamos a crescer o suficiente”.

No que toca à produtividade, apenas a Grécia e a Bulgária estão atrás de Portugal na UE. Apesar disso, as exportações representam mais de 43% do PIB e o país está a ganhar quota de mercado nos mercados internacionais. Sobre o fator da competitividade, as perspetivas são mais animadoras, tendo em conta que o World Economic Forum posiciona Portugal na 34.ª posição a nível global (num total de 50 países) e 15.ª dentro da UE. Portanto, há um claro paradoxo nacional entre os índices de produtividade e competitividade.

Face ao exposto, Raquel Seabra, administradora executiva da Sogrape, considerou que a situação empresarial  de hoje, complexa e de grande incerteza económica, exige novas perspetivas e dimensões no que concerne à competitividade, em que a aprendizagem organizacional, a capacidade de adaptação e a resiliência são elementos cruciais nas agendas dos gestores. Adicionalmente, é essencial que as organizações entreguem valor social e assumam o compromisso de terem um impacto positivo na sociedade.

O segredo já não é a alma do negócio. O poder e a vantagem competitiva está precisamente na capacidade de alavancar informação e conhecimento em rede. Temos que construir essa cultura”.

Por outro lado, João Duque, professor catedrático do ISEG, focou-se nos “dados assustadores” da demografia portuguesa e na imensa pressão que estes colocam sobre a administração pública relativamente à manutenção do serviço de pensões e do Serviço Nacional de Saúde. Este desequilíbrio obriga a que qualquer atividade que se faça em Portugal esteja direcionada para a produtividade: por cada unidade de capital investido, o resultado tem que ser de elevado valor acrescentado.

Oportunidade para Portugal?

Todos os fatores que se aceleraram com a chegada da Covid-19, mesmo que já fossem tendência antes da crise pandémica, causaram bastante stress na gestão das empresas. No entanto, Raquel Seabra crê que foram criadas algumas oportunidades, a médio-longo prazo, que podem obrigar a que se repensem decisões, mesmo algumas que foram tomadas há menos de 10 anos.

Uma das principais hipóteses tem que ver com a “devolução” ao velho continente da produção que estava deslocalizada noutros países. A concretizar-se, este cenário pode ser uma vantagem para Portugal, tendo em conta a nossa posição geoestratégica, com custos relativamente baixos, e a mão de obra qualificada.

Quanto ao financiamento, importa que as organizações não andem “ao sabor dos quadros públicos de apoio” e que priorizem a qualidade dos projetos. Não é por haver financiamento que os projetos devem ser concretizados, até porque os bons projetos acabam sempre por conseguir capital.

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O impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia

Como expectável, a guerra foi um assunto presente neste encontro. Paulo de Almeida Sande, advogado e especialista em questões europeias, apontou três saídas para aplicar no futuro imediato: a celebração de um acordo, a retirada de Putin do poder ou o prolongamento da guerra, “uma espécie de Síria da Europa”, sendo esta última o pior dos cenários para as empresas e para a sociedade.

Um país soberano, independente, reconhecido no direito internacional, atacar outro país soberano, independente e reconhecido pelo direito nacional desta forma, não há outro exemplo.”

A par dessas três saídas existem, também, três perspetivas para o futuro global: o mundo eurocêntrico, centrado nos valores europeus; o eurasianismo, centrado na Europa e na Ásia como dois polos que são comandados e geridos pela Rússia; e, por último, o duopólio asiático, ou seja, o crescimento irreversível da Índia e da China.

António Martins da Costa, presidente da Câmara de Comércio Americana em Portugal, acredita que o contexto apresentado impõe a necessidade de as empresas pensarem estrategicamente sobre questões de relocalização, de forma a mitigarem as suas vulnerabilidades e dependências externas. O que tem vindo a acontecer com a questão da energia e da segurança alimentar, uma vez que a Rússia e a Ucrânia representam grande parte da produção mundial, alertou os mercados para essa necessidade.

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Hoje em dia, temos a União Europeia a depender em 40% do gás natural russo, em cerca de 30% do carvão e entre 5 a 7% do petróleo.”

A Rússia e a Ucrânia representam cerca de 28% da produção mundial de trigo, 26% da produção de cevada, 17% da produção do milho e 44% da produção de óleo de girassol. Não é possível substituir esse fornecimento de repente, até porque alguns dos mercados não têm capital para encontrar alternativas.

No fim, as perspetivas apontam para algumas certezas: esta guerra não beneficia ninguém, mas a sua continuidade vai trazer grandes transformações ao nível da energia e da cadeia de abastecimentos. A curto prazo, será necessário aumentar as reservas de gás até ao próximo inverno, diversificar as fontes de GNL, aumentar a capacidade de gaseificação e reforçar a parceria com os EUA, que tem capacidade para ajudar a Europa nesta matéria. Os países com menor poder de compra serão os mais afetados, pois não têm liquidez disponível para recorrerem a outros mercados, o que vai acentuar as assimetrias a nível mundial.

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