Combinar negócios e lazer pode ser uma vantagem competitiva?

Quando líderes empresarias formam as suas equipas devem ter em consideração vários fatores. Um deles vai além dos conhecimentos técnicos e do conjunto de habilidades, focando-se na afinidade pessoal. O ideal é combinar essa atração interpessoal com a procura por recursos específicos, que preencham as lacunas. Num estudo publicado pelo Academy Management Journal, ficou comprovado que a adoção desta dupla estratégia produz uma vantagem competitiva significativa nas fases iniciais de uma empresa.

Este tipo especial de equipas une o lazer aos negócios, o que estimula a criação de laços e a aprendizagem. O estudo supracitado aponta especificamente para algumas dos benefícios deste modelo:

• Ativação de sistemas de memória transativa;
• Conhecimento e processos partilhados;
• Melhor codificação, armazenamento e utilização do conhecimento;
• Melhor compreensão do conhecimento de cada membro da equipa;
• Maior confiança na equipa.

Os elementos listados são aqueles que mais contribuem para a vantagem competitiva gerada pela dupla estratégia. Através deste método de construção de equipas, cada membro tem um maior entendimento da sua margem de progressão na empresa, do seu contributo e, também, do conjunto de habilidades e capacidades dos seus colegas e líderes. Ainda assim, o mesmo estudo assegura que as start-ups que estão a seguir esta ferramenta estratégica são escassas.

Embora não seja o modus operandi da maioria das empresas que integraram o estudo, os resultados não deixam de ser consideráveis. Segundo o relatório, os negócios que aplicaram a dupla estratégia duplicaram o seu financiamento inicial em comparação com as equipas que seguiram o modelo dos recursos ou do interpessoal, exclusivamente.

Simultaneamente, quando expostas a uma competição de empreendedorismo, na qual tiveram oportunidade de ser selecionadas por mentores e investidores, as empresas com dupla estratégia demonstraram um desempenho bastante superior. Numa fase inicial, tinham o dobro das chances de serem escolhidas para a competição e, depois, quatro vezes mais hipóteses de chegarem às fases finais.

Por último, no terceiro ensaio da investigação, o desafio focou-se na capacidade de venda de produtos e/ou serviços. Em suma, as equipas que obtivessem maior lucro sairiam vencedoras. Para este segmento do estudo, os membros das equipas foram escolhidos de acordo com os seus currículos e avaliações das redes sociais, sendo que foram definidas de acordo com quatro estratégias: procura de recursos; atração interpessoal; estratégia dupla; nenhuma estratégia.

Apesar de não terem sido auto-selecionadas, as equipas que aplicaram a dupla estratégia desenvolveram sistemas de memória transativa mais fortes, o que resultou num lucro mais elevado.

A aprendizagem é sempre uma vantagem competitiva

Os sistemas de memória transativa são muito importantes e trazem grandes benefícios para todos os negócios. Podemos dizer que esses sistemas se podem formar em qualquer equipa, ao longo de tempo, independentemente da estratégia. Porém, podemos também dizer que impulsionar a criação desses sistemas logo na fase inicial dos projetos empresarias pode ser decisivo enquanto vantagem competitiva.

Tendo uma curva de aprendizagem significativa, as equipas que integram uma estrutura de negócio recente necessitam ainda mais desses sistemas. Até porque, como sabemos, a rota do empreendedorismo pode ser caótica, exigindo, principalmente nas fases embrionárias, bastante polivalência, energia e dinamismo.

Através da dupla estratégia, cria-se um espaço muito mais favorável à aprendizagem, à progressão profissional e, também, ao bem-estar no trabalho. A partilha de conhecimento deve ser um traço nativo, de forma a estimular o crescimento das equipas, não só a nível técnico mas, também, ao nível da criação de laços e de reciprocidade. É importante que os empreendedores e empresários tenham isso em mente quando começam a estabelecer os seus departamentos.

Ao nível da aprendizagem, também existem algumas dicas a ter em conta para conseguir implementar modelos que perdurem ao longo da vida da empresa e da atividade dos seus funcionários. Essencialmente, referem-se à criação, aquisição, interpretação e retenção, disseminação e operacionalização do conhecimento:

• Crie incentivos à criatividade, de forma a que a equipa se sinta envolvida e motivada a participar (ludificação, sessões de brainstorming, etc.);
• Não se esqueça de ir buscar conhecimento aos seus concorrentes ou a outras entidades de referência (webinars, artigos científicos, publicações especializadas, etc.);
• Seja analítico e cultive esse espírito nos restantes membros da equipa. É importante tratar o conhecimento adquirido com responsabilidade e sentido crítico, fazendo uso dele para melhorar as ações do seu negócio, implementar mudanças aos modelos instaurados e alterar comportamentos, atitudes e/ou formas de trabalho;
• Transfira aquilo que aprende e incuta essa prática nas pessoas ao seu redor. Só assim poderá existir uma verdadeira evolução da equipa e da empresa, privilegiando o envolvimento e o contributo de todos;
• Materialize a aprendizagem, ou seja, permita que esta se transforme em conhecimento aplicado e não se fique apenas pela teoria. A informação deve ser usada para atingir conclusões e aprimorar resultados, mas também para ter um impacto comportamental na gestão e nas rotinas da empresa.

Claro que o modelo de negócio é decisivo, mas não é o único fator que importa. As caraterísticas da força de trabalho, mesmo no que toca às soft skills, representam uma vantagem competitiva que muitos ainda não descobriram. Ou, se descobriram, ainda não apostam tanto nesse fator quanto nos restantes, sendo que o investimento na construção de relacionamentos é um enorme impulso à prosperidade do negócio.