O diálogo é uma das formas mais importantes de comunicação humana. Quando duas pessoas se sentam para conversar, elas não trocam apenas informações, mas compartilham ideias, emoções e experiências, o que pode levar a uma maior compreensão e conexão entre elas. Em “Diálogo entre Cérebros”, a importância do diálogo é abordada como uma ferramenta para construir relações mais profundas e autênticas, bem como para enfrentar desafios sociais, principalmente nas organizações.
Através da exploração de diferentes perspectivas e do intercâmbio de ideias, o diálogo pode ajudar a superar divisões e promover a compreensão mútua. Neste artigo, examinaremos algumas das ideias-chave e discutiremos como a comunicação dialógica pode contribuir, entre muitos outros benefícios para o ambiente de trabalho, para uma maior produtividade nas organizações.
O diálogo difere de outras formas de comunicação, incluindo mediação, negociação, discussão e debate. No entanto, a comunicação dialógica pode ser incorporada nas formas de comunicação anteriores.
No debate, por exemplo, as partes tentam convencer-se mutuamente da exatidão de um determinado ponto de vista. O objetivo é trocar ideias entre uma parte e a outra, avaliar múltiplas perspectivas e selecionar a melhor. As partes tentam justificar e defender os seus pressupostos e convencer-se mutuamente de que a sua opinião é a opinião certa. Na discussão, os disputantes tendem a ficar defensivos e reativos. Estes são exemplos de comunicação dialética que muitas vezes se combina com a persuasão manipuladora.
A comunicação dialógica, por outro lado, procura informar e aprender em vez de convencer. É uma conversa animada por uma busca de entendimento que visa encontrar acordos ou soluções em conjunto. Preocupa-se não só consigo mesmo e com a própria posição, mas também com a compreensão da outra parte e da posição que essa parte promove. Os participantes concentram-se na sua relação e no processo conjunto de dar sentido uns aos outros, em vez de se concentrarem numa espécie de luta ganha-perde.
Abaixo estão algumas das principais diferenças entre comunicação dialógica e comunicação dialética:
Em algumas ocasiões, pode haver conflitos que não são relevantes para as organizações, ou que não merecem ser abordados, entre outros. Nestes casos, o exercício da comunicação dialógica pode ajudar as partes envolvidas a chegar a um entendimento comum e a pôr de lado o conflito de forma construtiva.
Nos outros casos, em vez de se concentrar no conflito em si, a comunicação dialógica pode ajudar as partes a explorar e entender os seus interesses, necessidades e perspectivas subjacentes. Tal pode ajudar a identificar áreas comuns de acordo e a desenvolver soluções criativas e colaborativas.
Por exemplo, se houver um desacordo na organização sobre o orçamento de um projeto, em vez de se concentrar no desacordo em si, os colaboradores envolvidos podem usar a comunicação dialógica para explorar as razões por trás das suas posições. Talvez um grupo esteja preocupado com a qualidade do trabalho, enquanto o outro está preocupado com os custos. Ao compreender melhor estas preocupações, as partes podem encontrar um terreno comum para trabalhar e desenvolver uma solução que satisfaça ambas as necessidades.
Em alguns casos, no entanto, pode haver conflitos que simplesmente não têm solução ou não são importantes para a organização. Nestes casos, a comunicação dialógica pode ajudar as partes a aceitar que não há solução e deixar de lado o conflito sem prejudicar a relação entre elas. Ao reconhecer e respeitar as perspectivas dos outros, mesmo quando discordamos deles, podemos construir e manter num ambiente de respeito mútuo e colaboração.
Em contraste com a persuasão manipuladora, a persuasão ética é defendida e explicada por vários autores, mas é necessário algum treino para alcançá-la efetivamente através da prática da comunicação dialógica. O Diálogo entre a Cérebros não é uma mera conversa, mas uma interação disciplinada pelos procedimentos do método e pelos princípios da persuasão ética.
Um treino/formação nesta área deve dar aos participantes a oportunidade de aplicar e praticar competências relevantes na companhia dos seus colegas e sob a orientação de um monitor, para que compreendam gradualmente e apreciem por si próprios o poder e o valor da comunicação dialógica.
O treino é necessário porque passar do nosso habitual “modo” dialético a introduzir a comunicação dialógica no nosso reportório é como para os solistas aprenderem a tocar numa orquestra. No início pode haver alguma confusão e desorganização, e pode ser difícil coordenar os diferentes instrumentos para produzir uma melodia harmoniosa. Mas através do treino e da prática, cada músico aprende a ouvir os outros e a ajustar o seu ritmo e tom para criar uma música bonita e coerente. Da mesma forma, a comunicação dialógica requer algum treino e prática para superar as dificuldades iniciais e alcançar um nível de confiança e habilidade na utilização dos procedimentos do método e dos princípios éticos.
Para que esta abordagem funcione, os participantes devem valorizar e respeitar as contribuições dos outros, mesmo quando estas são contrárias às suas. Isto não significa simplesmente aceitar o ponto de vista oposto. Também não significa adotar a atitude de pensar que todos os pontos de vista são igualmente aceitáveis, igualmente prováveis de serem verdadeiros. Em vez disso, significa concentrar-se mais nas razões pelas quais o interlocutor apresenta os seus pontos de vista.
De acordo com Walton (1999), o diálogo de persuasão pode surgir de um conflito inicial ou choque de pontos de vista entre dois proponentes de ideias diferentes. O principal objetivo deste tipo de diálogo é resolver verbalmente este conflito inicial e chegar a algum tipo de acordo estável através de uma troca de argumentos, perguntas e respostas. Podemos até considerar que o diálogo de persuasão é bem-sucedido, mesmo que a disputa inicial não seja resolvida, porque pode ser benéfico, para o entendimento entre ambas as partes, expor os seus pressupostos e compromissos ao longo do diálogo.
Num encontro dialógico genuíno, cada participante não só está disposto a partilhar conhecimentos com o outro, mas também está disposto a arriscar confusão e incerteza sobre si próprio, os seus próprios pressupostos, os pressupostos do outro e o assunto em questão (Gadamer, 1991). Além disso, os interlocutores devem estar dispostos e capacitados para reconhecer que lhes falta todo o conhecimento, que são influenciados por certos preconceitos e que precisam ouvir o outro e ser acessíveis do ponto de vista comunicativo. Portanto, do ponto de vista fenomenológico, uma atitude importante que permite que esse exame do nosso pensamento e pressupostos subjacentes ocorra é a da “abertura de mente”.
Autor: Pedro Meireles Sobral (Managing Director / Business Process Senior Consultant / Executive Counsellor)
Gadamer, H.-G. (1991). Plato’s dialectical ethics: Phenomenological interpretations relating to the Philebus
Martin Maurer, Dialogue as an Organizational Learning Intervention: Taking a Closer Look at Psychological Barriers, University of Illinois
Walton, D. (1999). One-sided arguments: A dialectical analysis of bias. Albany, NY: State University of New York Press.